Apresentação

Você provavelmente já deve ter assistido a animação da Disney Divertida Mente, lançado em 2015 o filme consegue chamar a atenção de crianças e adultos por explorar conceitos psicológicos de uma maneira lúdica e também consegue passar diversas mensagens importantes ao longo da história sobre emoções e memórias, ao longo dessa análise iremos tentar adentrar um pouco mais nos conceitos apresentados pelo filme tendo como base outras pesquisas sobre seus tópicos.

Sinopse

A história é contado em sua maior parte através do que se passa dentro da cabeça da protagonista a garota Riley de 11 anos, a sala de comando de sua mente é ocupada por 5 seres que caracterizam suas emoções Alegria, Tristeza, Medo, Nojinho e Raiva, que a guiam em suas decisões e as problemáticas do filme começam quando a garota tem que se mudar de cidade com a família juntamente quando está passando pelo período de entrada na puberdade e esse conjunto de mudanças repentinas causa grande transformações em sua emoções.

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Riley

Riley é a protagonista do filme, acompanhamos o seu crescimento desde o dia do seu nascimento até a sua pré-adolescência. A garota é como qualquer menina norte-americana: sente medo, angústia, insegurança e ansiedade. Ela está aprendendo a lidar com o seu próprio corpo e com quem está a sua volta.

Assistimos o funcionamento do cérebro de Riley e é a partir dele que conseguimos entender o funcionamento das cinco emoções base: a Alegria, a Tristeza, o Medo, a Raiva e o Nojinho.

Personagens Principais

FOI INCRÍVEL... SÓ A RILEY E EU... PRA SEMPRE... QUER DIZER, POR TRINTA E TRÊS SEGUNDOS

Alegria

Assim que Riley abre o olho ao sair da barriga da sua mãe aparece a Alegria, uma das principais emoções do centro de comando do cérebro da menina. Ao ouvir a voz do pai e encarar a expressão da mãe, a Alegria - que tem o corpo com o formato de uma estrela - comparece fazendo imediatamente Riley sorrir. A Alegria, em Divertida Mente, é o centro de todas as emoções. Ela sempre quer ver o lado positivo das situações e foi protagonista das principais memórias e traços de personalidade de Riley.

A TRISTEZA VOCÊS JÁ VIRAM ELA… EU NAO SEI BEM O QUE ELA FAZ, MAS EU JÁ OLHEI E NÃO POSSO MANDÁ-LA EMBORA

Tristeza

A Tristeza é descrita, desde o início, de maneira negativa e tomamos o partido da Alegria logo de cara. A Tristeza está sempre “arruinando” os momentos felizes de Riley e a Alegria tenta, a todo o custo, se livrar dela. A Tristeza é um sentimento essencial de Riley e fundamental para o amadurecimento da menina. Ao se deparar com situações inesperadas - como a súbita mudança de cidade - Riley se sente deprimida, sozinha, e a Tristeza ganha força. Fisicamente o corpo da personagem tem o contorno de uma gota e é azul. Um dos ensinamentos de Divertida Mente é justamente a importância da Tristeza, que costuma ser deixada de lado sempre que possível na sociedade contemporânea.

ESSE É O MEDO. ELE MANDA BEM NO QUESITO SEGURANÇA

Medo

O terceiro a chegar na Sala de Comando foi o Medo, sendo ele responsável por muitas das reações de repulsa de Riley, quando ele entra em ação a menina tem o impulso de escapar da situação em que se encontra o mais rapidamente possível. O papel dele é ser cauteloso e ficar sempre alerta para as situações que podem colocar Riley em perigo. O medo é essencial para a manutenção da vida. Apesar de tendermos a menosprezar e a diminuir ao máximo o Medo, ele acaba por se provar como um sentimento essencial para a proteção do indivíduo.

ESSE É O RAIVA, ELE SE PREOCUPA MUITO COM POSSÍVEIS INJUSTIÇAS

Raiva

Baixinho, vermelho, com muitos dentes e engravatado, essa é a representação da Raiva de Riley. A personificação dessa emoção no filme é a de uma criaturinha vermelha que veste roupas sociais. Ele está sempre estressado e tenta lutar contra as injustiças do mundo, expelindo fogo pela cabeça quando alguma situação o tira do sério. Quando as coisas não acontecem conforme o esperado, a Raiva entra em ação e domina a sala de comando do pensamento. Em diversas situações chave vemos a menina se render à raiva, o sentimento começa a ficar especialmente potente quando Riley cresce e entra na pré-adolescência.

ESSA É A NOJINHO. ELA BASICAMENTE EVITA QUE RILEY SE ENVENENE FISICAMENTE E SOCIALMENTE

Nojinho

Essa emoção não suporta brócolis e nem outro alimento ou situação que cause o mínimo de repulsa. A Nojinho, em Divertida Mente, envia sinais de alerta para que Riley se mantenha sempre saudável e integrada à sociedade. As situações em que Nojinho mais aparece envolvem a refeição, especialmente quando há brócolis no prato (Nojinho, aliás, é concebida com a cor e o formato de um brócolis). Ao menor alerta de Nojinho, Riley imediatamente se afasta da circunstância que lhe provoca repulsa.

Resumo da obra

Analisando a obra

Apesar das pesquisas não usarem o termo em específico bem claro que uma das principais críticas do filme está relacionada ao que chamamos de positividade tóxica que consiste nessa pressão social e mental de estar sempre feliz algo que ironicamente no geral tende a tornar as pessoas mais tristes pois isso é basicamente como uma necessidade de suprimir as outras emoções, que conforme vemos no filme todas têm um papel importante e que geralmente estão tentando nos alertar sobre como agir sobre determinadas circunstâncias.

No filme Riley enfrentou, portanto, duas mudanças: uma externa (de cidade) e uma interna (o fim da fase infantil para a entrada na adolescência). Assistimos em Riley um pouco do que se passa dentro de cada um de nós e, ao observarmos a pequena garotinha, percebemos como também nós reagimos às situações desafiadoras que atravessam o nosso cotidiano.

Frustração, raiva, injustiça - as crises representam um turbilhão de afetos com os quais não sabemos lidar. Mas a verdade é que esses instantes são essenciais para o crescimento da protagonista - e também para o nosso crescimento individual. Crises são oportunidades para encararmos o mundo de outra forma e para nos descobrirmos.

Uma das principais temáticas se dá pelo fato da Alegria sempre tentar se sobressair perante as outras emoções tentando rebaixar mais em específico a Tristeza e ao longo do desenvolvimento da personagem ela começa a entender a importância de momentos triste em nossa memória para moldar a personalidade, cognição e principalmente para o desenvolvimento da maturidade.

E não se trata aqui de demonizar ou louvar algum sentimento específico, todos eles são importantes para a manutenção da saúde psíquica tanto da menina, quanto da nossa.

Elementos da Narrativa:

Através da animação, de forma metafórica, entendemos como se dá o nosso funcionamento interno: o trem do pensamento, o depósito de memória, as emoções complementares que se revezam ao longo das várias fases da vida.

  • Memorias base

    Cada memória base é organizada de modo a moldar um aspecto da personalidade da Riley. Na menina várias ilhas coexistem: a Ilha da bobeira, da amizade, da honestidade, da família,etc. Um ponto interessante é como o filme aborda as memórias sobre como algumas delas são mais importantes por serem a base da personalidade e normalmente estarem ligadas a alguma emoção porém ao lembrar de uma memória em diferentes contextos o filme explica como é possível um mesmo momento passar diferentes emoções às vezes ao mesmo tempo como quando a Riley sempre lembrava feliz de seu primeiro gol em um jogo de hockey mas após se mudar de cidade e não jogar mais o jogo ela acaba lembrando do momento agora com tristeza por sentir saudade do antigo lar.

  • As emoções e as memórias

    O que significa “emoção” na psicologia? Na Sala de Controle, as 5 emoções tomam conta dessas respostas aos estímulos externos que Riley recebe. Essas repostas geradas pelas emoções criam memórias e são representadas no filme por pequenas esferas coloridas, onde cada cor representa a emoção que a criou. Ou seja, todas as memória que possuímos têm uma cor, uma emoção mãe que a gerou e, quando lembradas, podem gerar emoções diferentes. Por exemplo, Riley vivia em Minessotta e sempre se lembrava de seu primeiro gol praticando hockey com muita alegria. Ao se mudar para a nova cidade e ter perdido o contato com o esporte, a garota agora se recordava daquele momento com tristeza. As emoções consolidam as memórias, mas podem mudar de tom dependendo do contexto que nos encontramos no presente.

  • As emoções na criação da personalidade

    Algumas memórias são mais importantes do que outras pois constroem muito mais do que lembranças, elas são a base de nossa personalidade. No filme, essas lembranças poderosas que constroem a personalidade são chamadas de “memórias-base”. A cada momento especial e importante para a criação de um traço específico de personalidade, uma nova “ilha” era criada na mente de Riley. No filme, a garota de 11 anos construiu a Ilha da Família, a Ilha da Honestidade, a Ilha da Amizade, e assim por diante. A cada nova memória, uma nova ilha era criada ou alimentada pelas emoções que fazia surgir. O hipocampo é a estrutura cerebral que converte memórias de curto em longo prazo, e é ela que realiza a função representada pelas “memórias-base” em “Divertida Mente”.

  • Terra da Imaginação

    Essa é uma das ilhas mais fascinantes da mente de Riley e o lar de seu amigo imaginário Bing Bong, uma espécie de elefante em Divertida Mente, que se mistura a traços de golfinho, gato e outras características interessantes. A ilha tem castelos de princesas, casas em forma de nuvem, batatas-fritas gigantes e mais um monte de outros objetos e personagens criados pela mente da garota. É a partir desse mundo que, quando criança, Riley era convencida de que um chão de lava estava sob os seus pés quando, na verdade, era apenas um chão normal. O filtro da imaginação é mais forte nas crianças. No decorrer do filme, acompanhamos Riley passando por situações diferentes e ingressando na puberdade. Por esse motivo, a Ilha da Imaginação começa a desmoronar e muitos de seus moradores vão para o esquecimento.

  • O esquecimento

    Algumas memórias precisam ser esquecidas com o passar dos anos. No filme, as memórias que não têm mais utilidade para o presente são jogadas num lixão. Pode parecer trágico, mas pense numa situação traumática ou banal que aconteceu há alguns anos. A função do cérebro é tentar apagá-las para que novas memórias sejam criadas a fim de processar outras emoções, informações e memórias-base.

  • Os sonhos e o sono

    Os sonhos são controlados pelas memórias, emoções e o subconsciente de Riley. A criação dos sonhos é mostrada no filme como um estúdio de gravações onde eles são criados a partir das situações que o consciente captou quando Riley estava acordada, e também pelo que o subconsciente guarda. Em seu estado consciente, a mente absorve informações e episódios reais que se fundem ao imaginário, fixando-as na memória. Neurocientistas explicam que, uma vez que consolida as lembranças, a mente desenha ligações entre diferentes eventos para construir uma história. Disso, informações são cruzadas e misturadas a ponto de criarem os sonhos mais loucos, como foi mostrado na obra.

  • Subconsciente

    o subconsciente que é descrito como um lugar para onde levam que em causa problemas e essa é outra referência ao comportamento a nossa mente muitos pensamentos indesejados são reprimidos através de mecanismos de defesa e guardados justamente no subconsciente

  • O trem do pensamento

    Também podemos fazer uma conexão entre o Trem do Pensamento e a insônia. Quando a Alegria e a Tristeza tentam acordar Riley através de um pesadelo e obtém sucesso, logo o Trem do Pensamento é acionado e a garota sai do estado de sono para o trabalho contínuo de seus pensamentos. É assim que a insônia aparece.

  • O papel da tristeza

    A Alegria passa o filme todo tentando ignorar a Tristeza e reduzir cada vez mais o seu papel na vida de Riley. Mas o que a alegria não havia entendido ainda é que a Tristeza é necessária para compor a nossa memória, cognição, personalidade e experiências. Existe uma crítica profunda na relação entre a Alegria e a Tristeza, fundamentalmente relacionada à premissa imposta pela sociedade de que temos de ser felizes o tempo todo.

    Atualmente, as redes sociais refletem essa obrigação e compartilhamos apenas o lado bonito de nossas vidas. Mas a vida não é feita somente de alegria. Sem a tristeza, não conseguimos enxergar a alegria. A tristeza nos ajuda a moldar quem somos e como reagimos às situações. Ela nos permite extravasar quando algo não está certo e é crucial no desenvolvimento da maturidade.

    No fim, a Alegria entende que Riley não pode ser feliz o tempo todo e nem ter apenas memórias-base felizes construindo o seu eu. É aí que as duas emoções começam a trabalhar juntas, afinal, você também não se lembra de momentos felizes do seu passado com um pouquinho de melancolia? Isso acontece porque nada na vida é para sempre e tudo está em constante transformação.

    Riley não mora mais em Minessotta e os momentos felizes que lá passou, hoje são lembrados com um misto de felicidade pelo que viveu, e tristeza por não poder mais viver aquele momento no seu dia a dia. Essa mistura é saudável pois ensina a recordar com felicidade e a compreender que mudanças são necessárias, mesmo que o presente pareça momentaneamente menos feliz que outrora.

Lições do filme:

Após assistirmos a animação notamos como não existem sentimentos bons e ruins, todos os sentimentos são necessários para o nosso desenvolvimento psíquico.

  • Todos os sentimentos são importantes

    Ao contrário do que nos faz crer a sociedade contemporânea, a tristeza é essencial para a nossa vida. O nojo também é importante, porque de certa forma nos protege. O medo também não deve ser desprezado porque nos mantém em segurança. A raiva tambem nao fica atras, porque nos ajuda a agir ante a injustiças do dia-a-dia.

  • A importância das memórias

    Aprendemos a partir da observação do cérebro de Riley como acontecimentos externos repercutem em nós internamente e como a nossa personalidade está intrinsecamente relacionada às nossas memórias. Somos aquilo que vivemos e as memórias vão sendo armazenadas carregadas de sentimentos.

  • A memória e a metáfora das esferas.

    A memória vai sendo apagada aos poucos e a metáfora das esferas que vão desaparecendo é precisa para retratar o que se passa na nossa mente. Não somos capazes de armazenar tudo aquilo que vivemos, por isso as recordações vão gradativamente sendo apagadas.

  • Mudar é preciso

    O filme aborda como a mudança é um imperativo da vida: com o passar do tempo precisamos mudar e somos frequentemente colocados à prova. Muitas vezes acomodados na nossa zona de conforto, custamos a aceitar as mudanças que a vida nos impõe, mas a verdade é que somos constantemente empurrados para novas situações com as quais não sabemos inicialmente como lidar. Divertida mente nos ensina que se adaptar as novas realidades é preciso, ainda que seja um movimento difícil a princípio.

  • As crises são importantes para o crescimento

    Riley ao longo da narrativa passa por uma série de crises e momentos difíceis onde os seus sentimentos são testados.

The End

Apesar de a princípio parecer um filme dirigido para a infância, Divertida Mente fala tanto para adultos quanto para crianças por ser construído a partir de múltiplas camadas de interpretação. O longa-metragem permite que se compreenda o funcionamento do cérebro diante de situações cotidianas. Através de exemplos ilustrativos percebemos como lidamos com circunstâncias do dia-a-dia e de que forma eventos externos se processam internamente. O roteiro do filme foi construído com a supervisão de psicólogos e neurologistas que procuraram adaptar as complexas explicações sobre o funcionamento cerebral para termos acessíveis aos leigos.

Divertida Mente chama a atenção para analisarmos de forma diferente as situações e estarmos mais alerta para as conexões que fazemos. Não é raro depois de assistirmos o longa refletirmos sobre quem estará na sala de comando e quais serão os sentimentos envolvidos nas interações que temos. O filme também nos ensina a importância de aceitarmos as experiências negativas porque elas são essenciais para a formação do nosso caráter. Ao termos consciência de como o corpo processa o que foi vivido, entendemos melhor os nossos conflitos emocionais e respeitamos as nossas limitações internas e ao mesmo tempo que podemos escolher desafiá-las.

Assistir Divertida Mente é confrontar as nossas próprias emoções. É entender que nada passa despercebido pelo nosso cérebro e que precisamos cultivar as emoções como se fossem grandes amigos. Quando essa relação acontece, o convívio com o nosso eu e com o mundo lá fora fica bem mais divertido.